O Cânone Pobre: Uma Arqueologia da Precariedade na Arte.


Feliz em participar da exposição O CÂNONE POBRE com abertura hoje dia 27 no MARGS, com Curadoria de Ana Zavadil.

DE 27 DE MARÇO DE 2014 A 04 DE MAIO DE 2014 MARGS

O acervo do Museu de Arte do Rio Grande do Sul é o ponto de partida para a nova exposição que ora apresentamos: O Cânone Pobre: Uma Arqueologia da Precariedade na Arte. Esta exposição dá continuidade à extensa programação pensada para o MARGS para 2014 e tem como assunto a precariedade material, poética, ou metafórica, seja conceitualmente ou através da materialidade construtiva da obra.
O assunto não é novo, pois várias das questões que são apresentadas por esta exposição já haviam surgido com a Arte Povera, nos anos entre 1960 e 1970, na Itália, quando o movimento buscou dar ênfase ao lugar comum e se rebelar contra outros movimentos que surgiram na América como a Pop Arte e o Minimalismo. Esta inclinação artística teve desdobramentos em diversas partes do mundo e também no Brasil e foi trazido à visibilidade pelo crítico e historiador Germano Celant (1940). A ideia central do movimento era quebrar a dicotomia entre arte e vida e aproximar pessoas comuns ao universo da arte, tornando a arte mais inclusiva, considerando ainda o delicado período marcado por crises e revoltas políticas na Europa. Os artistas criaram obras com materiais “pobres”, ou seja, madeiras, jornais, terra, trapos, cordas, metais e vegetais com o intuito de criticar a sociedade de consumo para quem a memória e qualquer resquício do passado não tinham a menor importância.
Cabe ressaltar que um dos precursores deste movimento foi Lucio Fontana (1899- 1968) que trouxe um novo enquadramento para a pintura italiana, ao inovar as dimensões da pintura e da escultura, pois ao cortar uma tela monocromática com uma lâmina altera a definição convencional de espaço de arte, desafiando a história da pintura de cavalete, transformando a ilusão contida na dimensão da tela para um novo conceito mais dinâmico e abrangente envolvendo o próprio espaço arquitetônico, a cor, o gesto, a forma, o espaço, a luz.
Esse referencial teórico serve como pano de fundo para trazer à luz discussões sobre o uso de materiais precários na construção de uma obra de arte em um arco temporal extenso que coincide com o do acervo do MARGS, ou seja, de meados do século XIX até a contemporaneidade. A quebra dos pressupostos canônicos tem sido o objetivo das exposições realizadas no museu desde o inicio desta gestão, uma vez que, obras de períodos distintos são colocadas lado a lado permitindo a sua expansão conceitual. O cânone faz referência às obras, aos artistas e aos procedimentos que se enquadram às noções tradicionais da arte. A tradição diz respeito à produção artística de matriz eurocêntrica que exclui outras produções, ou seja,
aquelas que fogem à sua regra. Então, O Cânone Pobre, tem como intenção prioritária apresentar obras que fogem à norma canônica.
O subtítulo da exposição: “uma arqueologia da precariedade na arte” vai trazer à tona conceitos capazes de apontar proposições e reflexões que só a experiência no espaço museológico pode suscitar. A arqueologia é a ciência que estuda o passado através dos vestígios materiais podendo restituir aspectos sócio-culturais e ambientais de civilizações antigas. Também a arqueologia Foucaultiana, como ferramenta de investigação e análise de relações do tempo e do espaço, no caso da arte e mais especificamente da pintura, diz respeito à materialidade discursiva sobre os seus elementos formais (espaço, distância, profundidade, cor, luz, proporções, volumes, contornos, etc.) são objetos de uma análise arqueológica enquanto prática discursiva. A arqueologia, portanto, revela verticalmente as camadas descontínuas dos discursos para evidenciar o que historicamente constitui os sujeitos e objetos e a sua relação com a historiografia, não procura iluminar o passado com verdades, pois o seu horizonte não é o da racionalidade. A “arqueologia da precariedade” é o desvelar das camadas que constituem a obra e no conjunto de obras utilizado para esta exposição, a intensidade poética e visual permite um trânsito livre entre elas, pois justapostas e no modelo curatorial labiríntico, que vem sendo adotado pelo museu, o confronto é inevitável e bem vindo, proporcionando ao observador sentir-se em um grande núcleo de energia criado pelo potencial estético das obras em uma ousada distribuição espacial.
Nesse novo empreendimento do MARGS o núcleo majoritário de obras é do seu acervo e tais obras são apresentadas ora em situação de diálogo, ora de confronto, ora de justaposição, pois são obras de artistas do passado recente ou do presente e muitas ainda não trazidas a público, mas todas serão exibidas em um paralelismo não-cronológico criando assim novos modos de percepção ao conjunto.
Os mecanismos de exibição das obras de forma original criam no espaço museológico novas articulações conceituais em torno do tema proposto. A exibição de um grande número de obras sobre o assunto visa ampliar essa abordagem temática e propiciar o desejo do museu em exibir o seu acervo de uma maneira que demonstre a sua qualidade e a sua capacidade de transformação exatamente quando colocadas em confronto com as obras que vão questionar os princípios de canonicidade.
A análise das estratégias para esta exposição é apropriada para discutir, uma vez mais, o papel do museu na atualidade, em que o Museu de Arte do Rio Grande do Sul se reorganiza e se redesenha através de uma política cultural inovadora e estimulante, em que opta pela realização de exposições totalmente produzidas dentro do museu e a partir de seu acervo. O MARGS se transforma em um centro de disseminação de conhecimento com foco na exibição constante de seu acervo em justaposição às obras oriundas de outras coleções, o que o coloca em uma plataforma inovadora de atuação que o distingue de outros museus brasileiros.

Ana Zavadil-Curadora-Chefe 


Helô Sanvoy
PoA, 2013.
Recorte em jornal.
15 módulos de 38 x 29,5 cm cada.







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