Entrevista concedida a Marcio de Oliveira ao blog art&arte

Entrevista concedida a Marcio de Oliveira ao blog art&arte

Conversando sobre Arte: Entrevista com Helô  Sanvoy


Quem é Helô Sanvoy? 
Nascido e criado em Goiânia-GO, 1985, de família matriarcal M° Conceição, do interior do estado se muda para Goiânia no início dos anos 80. Passei a infância em um bairro residencial longe do centro.
 
Como a arte entrou em sua vida?
 A vontade de fazer alguma coisa, de se colocar e pensar o mundo e de contribuir com algo. Chega um momento em que algumas questões do mundo se apresentam para você, e de alguma forma é preciso tentar dialogar com elas, seja para procurar possíveis respostas ou para criar outros problemas, para uns essa relação se dá por meio da arte. Essas questões não são as mesmas para todos.

Como foi sua formação artística?
 Sempre em formação!
Quando penso no processo, vêm as práticas e brincadeiras de infância, em um bairro que grande parte das brincadeiras envolvia práticas manuais, sempre tinha que construir algo. Isso me ajudou a pensar meu espaço a partir da construção de objetos e na feitura de desenhos, essa prática era comum entre os amigos. Porém como não tinha envolvimento com o meio artístico nunca pensei esses fazeres como arte.
Posteriormente fiz o curso de Artes Visuais Lic. na FAV/UFG, durante a graduação trabalhei no Centro Cultural UFG, esse período contribuiu muito em minha formação, participei de atividades, de salva/guarda e catalogação de acervo, elaboração de ações educativas. O período que trabalhei com ação educativa foi fundamental para pensar o meu processo de criação. 
                       
Que artistas influenciam seu pensamento?
É a primeira vez que essa pergunta é colocada dessa forma para mim, sobre artistas que influenciam meu pensamento, sempre as ouço: quais artistas te influenciaram? ou quais artistas fazem parte da sua formação? Entendo pensamento aqui como veículo de conscientização, e dentro desse processo de tomada de consciência.  Tanto de se entender no mundo e de se colocar nele como alguém que se dedica aos processos de criação em arte. Alguns artistas vêm contribuindo de forma especial. Yves Klein em sua pesquisa sobre o imaterial, o vazio.  A subversão da escrita em Marcel Broodthaers, Joseph Kosuthreza e sua pesquisa sobre a natureza da arte, e construção de significados, Mira Schendel, Cildo Meireles, seus trabalhos feitos no período da ditadura nos ajuda a pensar o atual período que o Brasil está passando. Basquiat, ele conseguia fazer uma síntese do seu tempo mesclando palavra, textos, figuras.
 
Como você descreve seu trabalho? 
 Gosto de pensar a impossibilidade de leitura, as relações entre invisível e legível, a perda, as dificuldades de comunicação e representação provocadas pela ausência do discurso escrito.  
 Meu processo de criação se dá no dia a dia, com leitura de textos diversos, o próprio ato de ler faz parte da construção do trabalho. Em alguns trabalhos apago o texto, ou recorto, ou risco. Em outros recrio um processo de escrita, ou mesmo provoco apagamentos com sobreposições ou por oposição, porém sempre fazendo referência a palavra. 
 Gosto de pensar o trabalho em diversas linguagens, desenho, pintura, objetos, vídeos, quando tenho uma ideia que pode culminar em um trabalho, procuro executá-la na linguagem que melhor a expresse. Porém venho me dedicando bastante ao desenho, uso bastante papel vegetal pela peculiaridade do material, a translucidez, os diferentes tons que aparecem com a sobreposição e com o envelhecimento do material, os desenhos em vegetal partem da leitura de textos que fazem parte da minha rotina (livros, catálogos, textos da universidade, jornais, revistas e etc.), os quais durante a leitura são marcados, riscados, grafados. Posteriormente essas marcações são transpostas para camadas de papeis vegetais. Outros trabalhos com jornais retirando os textos, procuro trabalhar com possíveis diálogos entre a matéria publicada e os espaços vazios originário do recorte onde ficavam os textos. Os objetos trabalham com a relação de pressão e impresso. Pensando o gesto ou o ato de gravar algo por meio de pressão como fator fundamental para a expansão da escrita. Partindo desse princípio uso a força exercida por objetos que provocam pressão (grampos, morsas, prensas) como força de sustentação dos objetos, pensando a força que imprime como  elemento que sustenta o objeto e oculta o texto.  
 
É possível viver de arte no Brasil?
É impossível viver sem arte no Brasil!
Sobre questões de mercado de arte, é complexo falar a nível Brasil, pelo seu território, e diferentes modos de manifestação de cultura. Moro em Goiânia, uma cidade que durante os anos 80 teve uma importante movimentação de arte e uma grande quantidade de galerias. Atualmente esse mercado quase não existe e a importância dele para os artista é ínfima. O que leva a grande maioria dos artistas a terem uma segunda ou primeira profissão ou trabalho que pague as contas.
Em Goiás trabalha com arte quem não consegue viver sem ela, no sentido de se colocar no mundo, de problematizar algumas questões, promover discussões, reflexões por meio da arte. Isso faz com que o número de artista seja bem reduzido, a maioria de nós só gasta com arte, os retornos não são financeiros, são outros!  Porém não significa que isso tenha que ser assim, e que o artista tenha que se apropriar de outros afazeres para conseguir seu sustento, sem leis de incentivo municipais e estaduais, e sem um circuito que se sustente.
 
Você tem sido selecionado para diversos salões, qual sua opinião sobre os Salões de Arte? Alguma sugestão para aprimorá-los?
Participei de alguns salões, e penso que para a grande maioria dos jovens artistas que estão procurando mostrar seu trabalho é uma das poucas alternativas. Os salões permitem a busca de um diálogo com outros artistas, críticos, curadores e regiões. É uma procura para obter retorno da produção.
O formato de salão que abre um edital, recebe um portfólio geralmente com 3 trabalhos, é muito problemático, não dá pra conhecer o trabalho ou fazer uma seleção significativa vendo 3 imagens. Após a seleção parte dos salões recebem o trabalho por transportadora, colocam na parede, no fim da mostra o trabalho retorna para o artista e pronto, o artista acaba não tendo uma resposta ou construindo relações significativas de troca, e ainda tem que custear todo o processo. É preciso repensar esse formato de apresentação.
Alguns lugares estão optando para residências, proporcionando outras possibilidades de trocas, atualmente o Rumos Itaú está apostando em livres projetos e o diálogos entre as diferentes áreas artísticas, O Salão de Itajaí proporcionou uma liberdade maior de apresentação de projetos e obras, apostando em um processo mais amplo de seleção. Acredito que esses são modos de se procurar entender melhor a produção atual e de promover formas melhores de apresentação de arte.
 
 O que é necessário para um artista ser representado por uma galeria?
 Acredito que não exista uma fórmula, Penso que seja um processo construído com muito conversa e afinidade.  Eu não sou representado por uma galeria, mas não vejo problema em ser representado por uma.
  É importante ter um bom diálogo, ver o interesse do artista e da galeria. Para o artista, como pode se dar essa relação? Em que vai contribuir para a melhoria da sua produção? Quais os artistas representados pela galeria? Como seu trabalho conversa com eles? Essas relações estão além das vendas. Para a galeria deve ser proveitosa também, porém qual tipo de artista uma galeria procura, pode mudar muito de galeria A para B.

Que avaliação você faz da arte contemporânea em Goiânia?
Goiânia tem um significativo grupo de artistas que se dedicam a produção contemporânea de arte. Luiz Mauro, Pitágoras Lopes, Divino Sobral, Grupo EmpreZa, Marcelo Solá, Edney Antunes, Enauro de Castro, são alguns artistas que desenvolveram linguagens significativas no estado, se falando dos anos noventa para frente. Atualmente novos artistas vêm apresentando uma produção significativa, outros ao mesmo tempo tem conseguindo junto com essa produção ter uma maior visualidade em âmbito nacional como: Dalton Paula, Yara Pina, Paul Setúbal, Rava, Anna Behatriz, Hortência Moreira, Santiago Selon, Glayson Arcanjo, Evandro Prado entre outros. A produção desses artistas passam por diversas linguagens, performance, fotografia, instalação, grafite, intervenção, pintura, vídeo, objetos, porém a produção em desenho vem se destacando sendo uma técnica pesquisada por quase todos.
 Os espaços de apresentação não estão acompanhando essa produção, o que prejudica muito o desenvolvimento e a pesquisa em arte na cidade. Os espaços com atividade mais regular são: Galeria da FAV porém com difícil acesso, o Museu de Arte de Goiânia – MAG, e Potrich Galeria, os demais locais apesar da grande estrutura sofrem com pouca verba, tendo poucas mostras por ano ficando a maior parte do tempo fechados como o Museu de Arte Contemporânea – MAC e Galeria Frei Nazareno Confaloni. O Centro Cultural UFG vem tendo importantes mostras e tem formado um importante acervo de arte contemporânea brasileira, porém tem passado por diversas reformas após sua inauguração em 2010.
A Faculdade de Artes Visuais – FAV tem uma importante participação no processo de formação, a maior parte dos artistas que vêm se despontando nesse cenário passaram por ela. 
A produção crítica na região conta com poucos colaboradores, atualmente Divino Sobral vem apresentando trabalhos de crítica e curadoria mais significativas, acompanhado de Carlos Sena Passos, Gilmar Camilo, Agnaldo Coelho, recentemente Bárbara Lopes vem fazendo um importante estudo sobre a produção de arte no estado.

De que maneira um artista poderia ser conhecido além do seu estado?
Isso é um mistério, sei que os processos de legitimação nem sempre andam em parceria com os processos de aprofundamento das linguagens ou da contribuição da produção de determinado artista, para arte da sua época, o que só fica visível com o passar do tempo. Para quem está fora do eixo RJ SP mostrar seu trabalho fora do estado se torna mais complicado. 
 Acredito que uma boa parte dos artistas, quer ter um retorno crítico da sua produção ou mesmo contribuir com os debates e discussões em arte, para isso procuram expor em outros lugares, por meio de editais, salões, mostrando portfólio, procurando indicações e com o tempo o nome vai se espalhando. Além de ter um bom trabalho é preciso um pouco de sorte também.  
 
Quais são seus planos para o futuro?
Estou preparando para fazer um conjunto de trabalho que venho planejando a algum tempo, junto com isso me preparando para fazer mestrado, dedicando um tempo ao Grupo EmpreZa um coletivo de artista a qual faço parte e pensando em passar um tempo fora do estado de Goiás, como forma de aprendizado. 

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